Por que ainda nos organizamos como no século passado?
Com o decorrer da história as sociedades foram constituindo-se de uma forma cada vez mais organizada e interdependente. A conglomeração de pessoas em torno de centros produtivos e financeiros constituíram os alicerces para o que vemos hoje em todos os continentes do globo que são os grandes conglomerados urbanos.
Esses conglomerados são formados por dezenas de milhares de habitantes, os quais tem como uma de suas necessidades básicas o deslocamento, sobretudo para a sua própria inclusão e sobrevivência no sistema produtivo o qual todos nós habitantes do planeta estamos sujeitos.
Considerando que a ideia de gestão de espaços urbanos está se tornando cada vez mais otimizada, ou seja, atualmente é necessário um espaço consideravelmente menor para o uso urbano do que no passado. Isso se dá pelo fato do aumento da verticalização das cidades e pela necessidade de aumentar a rentabilidade de um determinado espaço, já que é cada vez maior o aumento do preço do metro quadrado nestes grandes centros, sobretudo em áreas centrais ou estrategicamente posicionadas, como por exemplo centros financeiros e industriais.
Desta forma, um dos grandes entraves para o desenvolvimento econômico, social e regional desses grandes centros urbanos é a mobilidade, considerando que movimentar dezenas de milhares de pessoas diariamente é um desafio extremamente complexo e que assombra os gestores públicos há muitos anos.
Tomemos como exemplo a cidade de Nova Iorque, a qual é considerada uma cidade de importância global por ser um dos principais centros financeiros do mundo. Mesmo tendo uma das malhas ferroviárias mais eficientes do mundo, não detém capacidade suficiente para sanar o problema crônico com a mobilidade urbana na cidade, sobretudo pelo trânsito causado por automóveis.
Muitos estudos apontam que o investimento em mobilidade urbana em uma determinada região está ligado diretamente a quantidade de investimentos produtivos que essa cidade ou região recebe no decorrer do tempo, uma vez que as grandes industriais ou conglomerados financeiros estudam minuciosamente os fluxos logísticos e a mobilidade de determinada área para considerar um tipo de investimento mais robusto e de longo prazo. A ideia é que regiões que investem mais em mobilidade tende a atrair mais investidores e se desenvolver com uma maior eficiência do que aquelas cidades ou regiões que não dispendem recursos para otimizar o deslocamento de seus habitantes.
Além da ideia de investimento na região em si, outro ponto muito importante a se considerar é a produtividade, seja do cidadão de forma individual ou da empresa / corporação. A produtividade pode ser medida pela qualidade de vida dos habitantes de uma região. Quando estes otimizam e melhoram a qualidade seu tempo de deslocamento tendem a produzir mais e de forma mais eficiente. Quando consideramos a produtividade da corporação podemos reduzir drasticamente custos com atrasos de funcionários e na logística na cadeia de suprimentos por exemplo.
Como levantado anteriormente, é um grande desafio deslocar uma quantidade imensa de pessoas em horários em pico. Nessa ótica cabe levantarmos uma questão um tanto quanto utópica mas acredito que vale a reflexão:
“Porque ainda nos organizamos e nos deslocamos em modelos do século passado? ”
Se considerarmos a criação da jornada de trabalho atualmente estabelecida como uma resultante da revolução industrial, podemos entender melhor como se dá a organização de praticamente toda população global em relação ao tempo e ao deslocamento.
Com a revolução industrial no século passado instaurou-se a necessidade de estipular jornadas e turnos de trabalho para que a produção pudesse manter os níveis necessários para atender toda a demanda em expansão em todo o globo. Dessa forma todas as indústrias, escritórios, trabalhadores deveriam operar no mesmo tempo para que não houvesse a necessidade de uma ‘parada’ na cadeia produtiva. Porém ao considerarmos as estruturas produtivas e globalizadas da atualidade, a necessidade de criar uma jornada de trabalho pré-estabelecida já não se torna necessário, dando lugar única e exclusivamente uma organização de tempo e deslocamento em prol da produtividade. Tomo como exemplo empresas globais ou que tenham relação com o restante do mundo, não há um padrão de horário em que todos estejam trabalhando ao mesmo tempo, obviamente isso seria praticamente impossível ou improdutivo. Mas mesmo com a disparidade de jornadas e locais de trabalho os negócios acontecem, a produção contínua nas escalas projetadas, as tecnologias avançam e permitem coisas inimagináveis, mas mesmo assim ainda tendemos a nos organizar com uma lógica centenária.
Devemos deixar a era da média para trás, ou seja, quando tudo é definido com base em uma média. A população se organiza com base na média da população, nos hábitos médios, na produção média e assim por diante. Hoje mais do que nunca precisamos entender que o indivíduo é mais importante do que nunca, onde suas necessidades e forma de gerir seu tempo é única e que a produtividade deve guiar as formas de relação com o trabalho. Obviamente realizar uma mudança estrutural e organizacional neste nível leva tempo até que se comprove valida e melhor que o modelo anterior, mas temos que ter em mente que um dos maiores problemas da sociedade em alguns anos será a gestão do espaço e do deslocamento das grandes massas populacionais, sobretudo nas megacidades que ainda estão se formando através de conglomerados urbanos. Portanto cabe aqui levantarmos uma alternativa para o entrave da mobilidade frente ao crescimento econômico e entendermos que as necessidades atuais demandadas pelo próprio mercado e pelos padrões de consumo mundiais estão esbarrando na forma em que a sociedade se organiza, levando em consideração inclusive a forma e como se desloca, sempre buscando a otimização do tempo e da produtividade.
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